Uncategorized

A beleza feminina através do tempo: como os padrões de beleza definem o que você pode comer e vestir

By abril 24, 2021No Comments

Constantemente presente nos nossos feeds, revistas, blogs, outdoors (e mentes), o padrão de beleza se apresenta de forma absoluta, simples e quase concreta: não é difícil pra quase ninguém imaginar como uma pessoa bonita deve se parecer hoje em dia, especialmente quando estamos falando de beleza feminina. Essa imagem que se vende como um sonho próximo e acessível, no entanto, se apresenta de maneira exclusiva e, para meros mortais como eu, e provavelmente você, inatingível – a não ser que você tenha o super poder de sair na rua seu corpo editado no Photoshop ou com um filtro do Instagram no rosto.

Olhando um pouquinho a história e vendo como o nosso ideal da perfeição foi drasticamente mudado ao longo dos anos, começamos a refletir se de fato existe um absoluto se tratando de beleza e como estar a mercê desses padrões pode gerar grandes impactos nas nossas vidas.

Os Gregos, há milênios, tentaram reduzir e generalizar a beleza humana da mesma maneira que fizeram com a arquitetura e com as artes: aplicando proporções, dividindo em simetrias. Não só isso, mas também a associaram à valores morais como justiça e bondade. De certa maneira, eles conseguiram. Na época isso foi fortemente reproduzido em pinturas, esculturas e na moda da alta sociedade grega – sempre que se repete uma ideia suficientes vezes, ele se torna a verdade, o senso comum.

“Sempre que se repete uma ideia suficientes vezes, ele se torna a verdade, o senso comum.”

Já na idade média, o belo foi associado a outros valores que contrastavam o homem e a mulher como criações divinas. O homem era mais quente, forte e viril e a mulher, vista como uma versão menor e mais simples do homem era mais fria, suave e gentil – rostos “alvos”, bochechas avermelhadas, traços como queixo, quadris e orelhas deveriam ser delicados e finos. Na renascença, a delicadeza permaneceu, mas mudou de forma – mulheres que hoje e na Idade Média seriam consideradas muito grandes, na época eram o que os pintores idealizavam como o belo.

Da esquerda para a direita: Venus de Milo (réplica de 1927, Slovenian National Gallery), Derick Baegert – Saint Luke Painting the Virgin (ca. 1470) e As Três Graças, de Peter Paul Rubens. Via Wikimedia.

Graças à mídia e às tecnologias recentes, fazer essa análise nos últimos 100 anos é mais fácil e traz muito mais exemplos. Além disso, podemos entender melhor como isso se relaciona com o nosso consumo, com a economia e com os nossos valores.

Os últimos (pouco mais de) 100 anos.

 

Parece que no início do século passado o ideal de beleza oscilou entre as curvas e os corpos magros e mais “retos”. Um exemplo clássico e escancarado foi a transição dos anos de 1900, simbolizado pela “Gibson Girl” Camille Clifford e o que ficou acertado como bonito na década de 20 pela “flapper”, a famosa melindrosa, em português.

Camille Clifford (foto de Ellis & Wallery) e Margaret Gorman (foto de National Photo Company). Via Wikimedia.

Nas décadas seguintes tivemos a volta de corpos mais acinturados, com mais curvas. O surgimento de novos formatos de sutiã contribuiu com a quebra dos “despeitados” anos 20 – afinal, de nada adianta ter um padrão de beleza que não ajude nas vendas.

Os anos 40 trouxeram ombros largos e um look mais militar, tendo a atriz Katherine Hepburn como um de seus principais símbolos. As propagandas militares queriam colocar as mulheres para trabalhar, dada a necessidade de material bélico e de preencher as posições que antes eram ocupadas por homens. Rosie The Riveter, a famosa figura dos posters, se tornou um símbolo que encorajou a sociedade feminina a participar ativamente da guerra.

Poster feito entre os anos de 1940 e 1945, para incentivar as mulheres ao trabalho fabril (autor desconhecido). Via Wikimedia. Por mais que a segunda guerra seja um período bem específico, mais uma vez vemos o padrão de beleza sendo fortemente influenciado pela economia.

Os anos de paz seguintes replicaram o que aconteceu no início do século: curvas e volumes dando lugar a formas mais retas e enxutas. A modelo inglesa Dame Lawson, carinhosamente apelidada de Twiggy (galho, ou graveto na tradução livre) substituiu nos anos 60 o estrondoso sucesso da voluptuosa Marilyn Monroe na década passada. Essa época trouxe consigo, também, um aumento significativo na incidência de anorexia nervosa. Segundo um estudo do Current Psychiatry Reports de 2012, houve um aumento significativo de casos da doença nas décadas de 60 e 70, que atingiram um platô até os dias de hoje.

O formato de ampulheta de Marilyn Monroe, à esquerda, com ombros, seios e quadris mais largos contrastando com a cintura fina, característica dos anos 50 (foto de Dell Publications Inc). A direita, a modelo Twiggy (autor desconhecido). Via Wikimedia.

Uma tendência que surgiu a partir dos anos 70 foi a da magreza e dos corpos sarados. Houveram, porém, variações de altura, de cintura e de tamanho: na década do Disco, as roupas de látex pediam corpos slim, com curvas suaves. Nos anos 80, as Supermodels dominaram, com um visual de Amazona – pernas longas, abdômen sarado, exercícios aeróbicos e tudo que a gente já conhece.

Já mais próximo dos dias de hoje e fresco nas nossas lembranças, está a resposta ao frenesi da década anterior. Winona Ryder, Kate Moss e tantas outras marcaram o look heroin chic dos anos 90 – um termo de péssimo gosto, diga-se de passagem, que pode ser traduzido como “glamour da heroína”. Figuras pequenas, magras e com um visual muito menos atlético.

Da esquerda para a direita: Judith Baragwanath fotografada por Max Thomson em 1970, a modelo australiana Elle Macpherson fotografada por Marc Hispard para a Sports Illustrated, em fevereiro de 1988 e a atriz e modelo Kate Moss. Via Flickr e Wikimedia.

Os anos 2000 foram dominados pela brasileiríssima Gisele Bündchen a “mulher mais bonita do mundo”. Um exército de personal trainers e um bronzeador artificial podem resumir bem o que foi marcado nessa década – além de milhares de outras lembranças que temos: Angelina Jolie, Cameron Diaz, Jennifer Aniston, Heidi Klum, Spice Girls e tantas outras. Mesmo tendo um padrão definido, os anos 2000 trouxeram um pouco mais de diversidade para a mídia e também para nossos ideiais do que é ser bonito. Beyoncé, Jennifer Lopez são exemplos de ícones com a aparência mais “exótica” e autêntica (afinal, a beleza midiática dessa época era majoritariamente caucasiana).

Paris Hilton por Frazer Harrison. Via Buzzfeed.

Os dias de hoje – e uma saída

 

O constante bombardeamento de pessoas bonitas e magras nos seus melhores momentos das redes sociais é o que tem ditado que ritmo devemos manter e onde queremos chegar. Apesar de já estarmos de certa maneira avisadas sobre os perigos de olhar cegamente para o outro e achar que a grama do vizinho sempre é mais verde, não somos imunes aos encantos do feed alheio.

Conceitos e movimentos como o Body Positive e a neutralidade corporal vem como uma resposta prática aos sentimentos e impactos negativos que as novas mídias têm sobre nós. Começar com uma visão mais apreciativa e saudável de si próprio, pode ser o primeiro passo para se sentir confortável consigo mesma.

Hoje, uma ideia menos precisa e mais abrangente do que é ser bonito tem tomado espaço. Por mais que pessoas como Kim Kardashian e Gabriela Pugliesi, que vivem da própria aparência, ainda sejam os modelos de como achamos que devemos nos parecer, nossos ideais são cada vez menos baseados em celebridades e figuras públicas e mais baseados em pessoas reais. É claro perceber como a mídia e os padrões de beleza mudam de maneira simbiótica. Mas, se existe uma coisa que escapa à flexibilidade e a subjetividade dos padrões da mídia, é o valor da nossa individualidade, auto estima e a confiança do que podemos ser.